Produtores de milho passaram por períodos de estiagem em fevereiro, março e abril — meses em que a chuva é necessária para o cultivo do grão. A seca impactou a safra no ano, e a Secretaria de Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural (Seagri) estima uma redução de 70% da quantidade de milho. A perda está avaliada em R$ 116 milhões, o que significa 2,5 milhões de sacos de 60 quilos do grão a menos que serão colhidos.
A secretaria divulgou na sexta-feira (27) nota técnica no site e no Diário Oficial do Distrito Federal com essas informações. Segundo o estudo, o El Niño — fenômeno climático que ocorre no Oceano Pacífico — afetou as chuvas no Brasil. Em Brasília, desde 1962, a média pluviométrica de abril é de 123,8 milímetros; em março, de 180,6 milímetros; e em fevereiro, de 217,5 milímetros. No entanto, neste ano, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) registrou 10,8 milímetros em abril, 151 milímetros em março e 84,9 milímetros em fevereiro.
O secretário da Agricultura, José Guilherme Leal, afirma que o papel da pasta é auxiliar a administração e dar suporte aos produtores durante os momentos críticos. “Lançamos a nota técnica para embasar e apoiar os produtores que não puderem cumprir os contratos ou tiverem que solicitar novos financiamentos”, explica.
Os grãos produzidos em Brasília são usados principalmente para virar ração para porcos e aves. O secretário explica que é possível haver um impacto no preço dessas carnes futuramente. Leal acrescenta que, se for necessário, pedirá ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) ajuda para repor o déficit de milho e não comprometer o preço das carnes para o consumidor brasiliense. Segundo o secretário, o órgão do governo federal tem estoques com o grão para esses momentos.
O gerente da Emater-DF em Tabatinga (região administrativa de Planaltina), Lucas Pacheco, afirma que a região é uma das principais produtoras de grãos no DF e que a seca impactou os agricultores. De acordo com o gerente, antes da divulgação da nota técnica, ele preparou laudos a pedido de produtores que comprovassem a perda na agricultura. “Teve gente que perdeu 100%”. A Seagri entrevistou 59 produtores de milho, dos quais 53% apresentaram uma estimativa de quebra da produção do que foi plantado.
Cultivo — O produtor Lucas Michalski, de 31 anos, planta milho e outros grãos desde os 16 anos. A família gaúcha e de origem polonesa tem uma fazenda de 60 hectares no Núcleo Rural de Tabatinga. O agricultor calcula que terá uma perda de 1,5 tonelada por hectare plantado — o equivalente a 90 toneladas de grãos colhidos a menos nesta safra.
Apesar de haver queda na produção, Michalski acredita que não terá prejuízo financeiro. Como a quantidade de milho no mercado diminui, o preço para cada saco aumenta. “Esse saco todo é quase ouro”, afirma o produtor ao apontar para o estoque que tem guardado. Segundo o agricultor, a média de preço por saco é de R$ 18.
“Neste ano, me ofereceram até R$ 50”. Apesar de o valor de mercado ter subido, o dono da fazenda afirma que não vale a pena, já que a perda também tem um custo alto. Para este ano, Michalski investiu cerca de R$ 90 mil.
O milho considerado bom pelo produtor é aquele que tem a espiga coberta de grãos. Porém, Michalski mostra que o material está cheio de vãos. “O milho bom que colhemos nesta safra era o ruim da do ano passado.” O agricultor disse que teve sorte porque não fechou contrato nem precisou de financiamento para fazer a produção. “Se eu tivesse fechado compromisso, não teria como arcar agora porque a quantidade mínima a ser entregue é estabelecida antes. E eu nunca produzi tão pouco.”
Brasil — A situação não é diferente no restante do País, terceiro maior exportador de milho no mundo. O Espírito Santo também teve produção abaixo do esperado para esta época do ano e, para conseguir controlar a redução, o estado tem importado milho da Argentina. Leal afirma que esse não é um risco para Brasília. Segundo ele, não há previsão para que a capital precise importar produções.
Texto: Jade Abreu
Fotos: Pedro Ventura
Agência Brasília
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