Promovido pela Associação Paulista de Extensão Rural (Apaer), o Fórum de Debates realizado no dia 23 de junho, na sede da CATI, em Campinas, trouxe informações importantes sobre os rumos da extensão rural no Brasil, com o tema A Extensão Rural no Brasil e a atual conjuntura: desafios e perspectivas. Segundo Abelardo Gonçalves Pinto, presidente da Apaer, essa discussão é relevante, em um momento de transformações políticas e econômicas no País e no segmento agropecuário. “A Apaer tem como uma das suas principais funções melhorar a formação extensionista e, debates como esse, o qual discutiu temas importantes do cenário atual, auxiliam os extensionistas a terem uma compreensão mais sistêmica do desenvolvimento rural no Brasil”, explicou Abelardo, que também é extensionista da Divisão de Extensão Rural (Dextru) da CATI.
Principal debatedor, Argileu Martins, presidente da Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural (Asbraer) e da Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater/DF), falou sobre o papel da extensão e os desafios atuais. “A extensão presta um serviço primordial para o desenvolvimento rural brasileiro, pois atua com o conjunto de produtores que produz alimentos da cesta básica da população brasileira. Quando trabalhamos com esses produtores, estamos contribuindo de forma estratégia e decisiva para a questão macroeconômica dos produtos que impactam o índice de preços e medem a inflação no Brasil, pois 54% desses produtos vêm do segmento que a extensão rural trabalha. Nesse contexto, o debate promovido nesse Fórum nos mostrou de que maneira enfrentamos os diversos desafios que se apresentam para a extensão, como os ambientais originários das mudanças climáticas; os de financiamento pelo fato de que a extensão rural é um serviço de educação não formal, o qual não não pode sofrer descontinuidade; da formação dos técnicos, que devem se atualizar permanente; da sustentabilidade social, ambiental e econômica. Além disso, ficou claro que para superar os desafios é preciso haver comprometimento dos governos em todos os níveis, participação das entidades que representam os produtores, sendo necessária também uma compreensão da sociedade de que é a agricultura que produz água e comida para a população, bem como sobre o papel fundamental da extensão rural para que as pessoas possam continuar vivendo nas cidades e com qualidade de vida no campo”.
Os assuntos debatidos versaram sobre temas abrangentes, como arranjos institucionais e Redes, políticas públicas, inovações, organização rural e gestão social, sistemas de produção, integração entre a pesquisa e a extensão, e formação de extensionistas e agricultores. Afonso Peche, pesquisador científico do Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, participou de uma das mesas de debates, falando sobre pesquisa, extensão e a relação com os agricultores. “Na relação pesquisa e extensão é preciso trabalhar o desenvolvimento mais em escala humana do que tecnológica, mostrando que a agricultura familiar é fundamental para as cidades, enfatizando que o território rural é formado por grandes, médias e pequenas propriedades, mas que é na pequena que se consolidam as atividades ligadas ao cotidiano das cidades”, ressaltou o pesquisador, deixando uma mensagem para extensionistas e pesquisadores: “os extensionistas devem acreditar na parceria com a pesquisa, entendendo seu papel-chave de levar as demandas do campo, contribuindo para a concepção de pesquisas concernentes com as necessidades do produtor. Também é preciso acreditar que muitos dos saberes elaborados nas entidades da pesquisa e extensão, quando “temperados” com os saberes dos agricultores, alavancam o sucesso na produção e na economia, trazendo felicidade e bem-estar para os agricultores”.
Além do pesquisador, participaram como debatedores: Roberto Ribeiro Machado, diretor da CATI Regional Mogi Mirim; Escolástica Ramos de Freitas, da Dextru/CATI; Carlos Knipell Galletta, da Apaer; e Maristela Simões do Carmo, da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho, campus Botucatu.
Expoente do estudo da extensão rural no Brasil, a professora da da Faculdade de Engenharia Agrícola da Universidade Estadual de Campinas (Feagri/Unicamp) e da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), campus de Araras, Sônia Bergamasco resumiu o conteúdo debatido. “Conversamos sobre o papel da Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater) e refletimos sobre a nova Ater que deve ser implementada para atender às demandas atuais da agricultura familiar, olhando os aspectos importantes para caminhar independente da questão política, mostrando a importância da agricultura familiar para a sociedade, que é responsável pela produção de alimentos e produtos que podem ser industrializados. Discutimos questões ligadas à pesquisa e mecanização, pensando na revisão de paradigmas de impacto, pois estamos vivendo em um caos ambiental, no mundo todo, sendo que alguns países já se deram conta da necessidade de minimizar o impacto sobre os recursos naturais. E quando falamos nessa nova forma sustentável de se relacionar com a natureza, estamos falando do conceito de agroecologia, que, como alguns debatedores manifestaram, não tem mais volta, pois é a forma de produzir minimizando a degradação ambiental”, informou Sônia, ressaltando também a discussão sobre os arranjos institucionais para essa nova Ater, incluindo a criação de Redes e a formação de técnicos e agricultores conscientes de seus papéis na nova agricultura que desenha”.
O presidente da Asbraer encerrou o Fórum destacando o alto nível da discussão. “O nível intelectual foi muito bom, pois os participantes mostraram que conseguem fazer uma boa leitura do passado e do presente da extensão rural, estabelecendo perspectivas para onde deve andar o trabalho, para que ele seja efetivo nos aspectos sociais, econômicos e ambientais da agropecuária. Pudemos ver que existem propostas objetivas e diretrizes para que se trabalhe respeitando os saberes dos produtores, a realidade local, ao mesmo tempo em que se coloca à disposição novos conhecimentos e as inovações tecnológicas. Atuando dessa forma, a sociedade compreenderá que água e alimento são produzidos no campo, local em que trabalhamos com as pessoas responsáveis por essa produção”, avaliou Argileu, destacando, nesse contexto, o papel da CATI como órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, responsável pela extensão rural em São Paulo: “A CATI tem 49 anos, mas o trabalho extensionista no Estado começou há muitos anos com as ações de diversos setores da Secretaria e, há 49 anos, com a constituição da CATI. Por isso, perguntamos: o que seria da agropecuária de São Paulo sem a CATI? Será que teríamos a mesma produção de horticultura, grãos, entre outros? Constatamos que, na medida em que a instituição vai se modernizando, permanece sendo extremamente fundamental para que se continue a produzir alimentos em São Paulo”.
Depoimentos
Para os participantes, o evento permitiu uma reflexão das demandas da agricultura familiar e as transformações necessárias para que a extensão cumpra seu papel de articuladora do processo de desenvolvimento sustentável, tendo os agricultores como protagonistas. “Considerei o debate muito rico, pois mostrou experiências de entidades de outros estados, o que colabora para que os extensionistas se organizem de forma abrangente para defender a extensão como serviço público necessário para o desenvolvimento do País, para que o produtor tenha acesso ao conhecimento e à uma vida melhor. Entendemos que é preciso somar forças para ter uma Ater pública e de qualidade”, avaliou Reginaldo Toledo Ruiz, perito federal agrário do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra/SP).
Representando a Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp), Afonso Curitiba Amaral, coordenador da Regional Leste Araras, destacou que um dos pontos-chave do evento foi a troca de experiências entre extensionistas de vários órgãos de extensão. “Esse Fórum propiciou a reunião de vários extensionistas, em um momento de transformações no País, como a ocorrida com o Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA). Também mostrou as experiências e as vivências dos extensionistas e das instituições que têm contribuído para a formulação das políticas públicas.
Para Maria Cláudia Silva Blanco, extensionista da Dextru, o Fórum permitiu visualizar o trabalho da CATI diante do cenário nacional e identificar os pontos comuns para a implementação de ações e propostas. “Em São Paulo, a CATI tem um papel central na extensão, mas, ao conhecer mais de perto a realidade de outros estados, vemos que os desafios são os mesmos, incluindo a formação dos extensionistas, a continuidade da agricultura familiar, a organização dos produtores, o incentivo às políticas públicas, entre outros. Por isso, cada vez mais é preciso unir esforços em prol da agricultura familiar”.
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