Produtor rural conseguiu comprar propriedade pelo programa Terra Brasil

Em meados de 2020, o produtor rural Celso Lúcio Ferreira, que arrendava uma chácara no Incra 7 (região administrativa de Brazlândia), recebeu a notícia que deveria entregar a propriedade, já que o dono queria vender. Era a terceira vez que algo parecido acontecia, o que fez com que Celso pensasse em desistir de sua produção de leite, queijos e doces. Ao comentar o desejo com o médico-veterinário Mario Paschoal, da Emater-DF, ouviu que havia linhas de crédito que poderiam ajudá-lo. Foi assim que conseguiu sua própria fazenda, no município goiano de Cocalzinho, no Entorno do Distrito Federal, onde já planeja se consolidar e aumentar sua produção.

“Soubemos que o Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF) estava sendo reestruturado”, conta Paschoal. “Enxergamos ali uma possibilidade para o Celso se consolidar”, acrescenta. A linha de crédito, oferecida pelo Ministério da Agricultura, é voltada para trabalhadores rurais, assalariados, posseiros ou arrendatários com, no mínimo, cinco anos de experiência na terra.

Celso pretendia vender seu rebanho e comprar leite de terceiros para continuar produzindo queijos e doces. “Era a terceira vez que isso acontecia: eu arrendava uma propriedade e, quando estava começando a crescer, o dono colocava a terra à venda ou desfazia a sociedade. Isso me deixava frustrado”, relembra o produtor.

O extensionista da Emater-DF, no entanto, afirma que Celso é um trabalhador dedicado, obstinado e que se encaixava perfeitamente nos critérios para acessar o PNCF. “O produto dele é muito bom e seu cuidado no manejo do rebanho e na gerência da propriedade são garantia de sucesso do negócio”, pontua Paschoal.

A assinatura do contrato para a concessão do empréstimo foi marcada por um episódio: Celso contraiu covid às vésperas da conclusão do processo. “Fiquei internado 30 dias no Hospital Regional do Gama. Quando me recuperei, mal tinha forças para puxar um lençol e me cobrir”, lembra. O produtor teve que fazer fisioterapia para conseguir assinar a documentação. “Tudo isso demonstra que, só por estarmos aqui, podemos nos considerar vitoriosos”, afirma a esposa de Celso, Gina Consuelo Ferreira.

Para acessar o Programa Nacional de Crédito Fundiário, o produtor precisa que alguma entidade credenciada no Ministério da Agricultura elabore o projeto de crédito. Atenta à essa alternativa para o agricultor, a Emater-DF se credenciou e, assim, Paschoal colocou mãos à obra. “Encontramos essa propriedade, próxima ao Distrito Federal, que atendia perfeitamente ao negócio do Celso”, conta o extensionista.

Além do projeto, a empresa deve prestar assistência técnica na propriedade durante cinco anos. Mario Paschoal já está trabalhando junto com Celso para a consolidação do negócio, que inclui a construção de uma agroindústria, o melhoramento genético do rebanho e todo um plano de metas. “Atualmente, Celso tira 160 litros por dia de 28 vacas. Nosso objetivo é chegar aos 500 litros em quatro anos”, aponta o veterinário. Além da mulher, Celso conta com a ajuda dos dois filhos, Felipe e Vinícius.

Celso produz cerca de 40 queijos por dia. Os clientes individuais atestam a qualidade do produto

Atualmente, Celso vende queijos e doces — feitos com a esposa — para clientes individuais. “O Mario está me ajudando a articular, junto aos órgãos do estado de Goiás, para a obtenção do selo interestadual, quando vou poder comercializar também no DF”, vislumbra o produtor. A chácara possui ainda galinhas e porcos, que dão algum lucro com a venda de carne e ovos.

A gestora do PNCF é a Secretaria da Agricultura (Seagri), que já intermediou 95 projetos com a linha. “Procuramos propriedades nos 33 municípios da RIDE (Região Integrada de Desenvolvimento Econômico) do DF, já que em Brasília, a maioria das terras não tem escritura definitiva, uma das exigências para a concessão do crédito”, explica Adão Carlos Pereira, diretor de Crédito Fundiário da Seagri. O projeto do produtor Celso Lúcio Ferreira foi o primeiro concedido no DF e Entorno.

PNCF — Programa Nacional de Crédito Fundiário

Quem pode participar?
– Trabalhadores rurais não-proprietários, assalariados, arrendatários, posseiros, que comprovem, no mínimo, cinco anos de experiência na área rural.

Quais são as restrições?
– O agricultor não pode ser funcionário público nem ser casado ou manter união estável com alguém da categoria; não pode ter sido assentado ou ter participado de algum programa financiado com recursos da reforma agrária; não pode ter sido dono de algum imóvel maior que uma propriedade familiar.

O agricultor, pecuarista ou trabalhador rural que tiver interesse, pode procurar qualquer escritório da Emater-DF, onde os extensionistas da empresa estão disponíveis para informar e orientar sobre o programa. A lista completa com os endereços e telefones está aqui.

A Emater-DF

Empresa pública que atua na promoção do desenvolvimento rural sustentável e da segurança alimentar, prestando assistência técnica e extensão rural a mais de 18 mil produtores do DF. Por ano, realiza cerca de 150 mil atendimentos, por meio de ações como oficinas, cursos, visitas técnicas, dias de campo e reuniões técnicas.